Em 1949, Lon L. Fuller publicou O Caso dos Exploradores de Caverna, um exercício de imaginação jurídica que se tornaria um clássico do pensamento jurídico no século XX. Na obra, Fuller narra um julgamento fictício no qual cinco juízes debatem, a partir de diferentes perspectivas teóricas e morais, o destino de exploradores que, presos em uma caverna, sacrificam um de seus companheiros para sobreviver. O caso propõe uma reflexão profunda sobre o papel do Direito, seus fundamentos morais, suas limitações interpretativas e os dilemas que surgem quando a norma jurídica é confrontada com situações-limite.
O presente livro nasce inspirado nessa tradição, transportando o método de Fuller para o campo do Direito Ambiental contemporâneo. Em vez de um julgamento penal, acompanhamos aqui um intrincado processo de licenciamento ambiental para a exploração de lítio em uma caverna com altíssima relevância ecológica, cultural e simbólica. Assim como em Fuller, o caso apresentado é fictício, mas inteiramente plausível. Ele reúne elementos técnicos, jurídicos e éticos que espelham conflitos reais enfrentados diariamente por operadores do Direito, órgãos públicos, comunidades locais, empresas e o Poder Judiciário. A estrutura do livro foi concebida para provocar o leitor universitário à reflexão crítica. A narrativa se inicia com o histórico da mineração na região, passando pela caracterização dos povos tradicionais e das implicações ambientais da atividade proposta. Em seguida, são apresentados os documentos técnicos, as manifestações das partes envolvidas, os pareceres, os votos administrativos e judiciais - tudo construído para permitir que o estudante identifique os diferentes princípios, normas e fundamentos que informam o Direito Ambiental, como o princípio da precaução, a proteção ao patrimônio cultural, a consulta prévia de povos tradicionais (Convenção 169 da OIT), a sustentabilidade e a função socioambiental da propriedade.
Tal como Fuller convidou seus leitores a se posicionarem diante do dilema trágico dos exploradores, esta obra convida estudantes, professores e profissionais a se posicionarem diante dos dilemas ambientais de nosso tempo. Ao final, não se busca uma única resposta certa, mas a consciência de que as decisões jurídicas no campo ambiental são, muitas vezes, escolhas trágicas que exigem ponderação, responsabilidade e, acima de tudo, compromisso com as presentes e futuras gerações.
Este livro é, portanto, uma simulação didática destinada a cursos de graduação em Direito, mas também pode ser útil a cursos de Gestão Ambiental, Engenharia Ambiental, Ciências Sociais, Geografia e outras áreas que dialogam com o Direito Ambiental. Espera-se que, ao final da leitura e dos debates que ela suscita, os leitores estejam mais bem preparados para enfrentar, com lucidez e sensibilidade, os complexos desafios da defesa do meio ambiente no século XXI.
